Recentemente criada a ALGA – Associação Lusófona de Gestão e Administração pretende ser a associação representativa dos investigadores provenientes e a trabalhar em países de língua portuguesa, nos domínios da Gestão, tal como as suas congéneres que já existem para o espaço Europeu (EURAM) ou Ibero-Americano (IAAM).O infoRH foi falar com Miguel Pereira Lopes, membro Promotor da ALGA e coordenador da unidade de GRH do ISCSP/ULisboa, para ficarmos a conhecer melhor a Associação.
Conte-nos como surgiu a criação da ALGA – Associação Lusófona de Gestão e Administração.Com o crescente intercâmbio observado nos últimos anos ao nível do desenvolvimento científico, cultural e económico no espaço dos Países de Língua Portuguesa, um conjunto de investigadores provindos de países como o Brasil, Moçambique e Portugal organizaram no ISCSP, em Lisboa, em Outubro de 2011, o 1º Congresso Lusófono de Comportamento Organizacional e Gestão, tendo reunido cerca de 100 investigadores das várias áreas da Gestão. Desde aí, esta rede informal de investigadores não mais parou, tendo-se reunido anualmente e tendo já organizado mais dois Congressos, um em Minas Gerais no Brasil, e outro em Maputo, e umas Jornadas na ilha da Madeira. No congresso do ano passado, em Maputo, foi assinada a “Carta de Maputo” onde nos comprometemos a formalizar, no espaço de um ano, a criação da ALGA – Associação Lusófona de Gestão. É esse o passo que daremos este ano e que será apresentado durante as Segundas Jornadas que se vão realizar em Ponta Delgada nos Açores, em novembro deste ano.
Que objetivos a Associação pretende cumprir?A preocupação de base que está subjacente à ALGA é a de compreender os aspectos chamados “émicos” ou específicos da gestão e da administração nos países que partilham valores culturais comuns, para além da mesma língua. Há aspectos e problemas eventualmente universais no que se refere à gestão e administração, mas depois existem especificidades que se devem às diferenças culturais entre os povos. O que acontece é que, em termos científicos, é a matriz anglo-saxónica que domina a agenda de investigação, o que se traduz no facto de os investigadores, incluindo os lusófonos, serem como que obrigados a investigar uma agenda que inclui problemas que nem sempre são os seus. É preciso mudar isto e começar a investigar os nossos problemas e a nossa “forma” de gestão, sem qualquer complexo de superioridade ou inferioridade. Se Portugal, por exemplo, tem avançado tanto no que se refere a investigação científica internacional, porque é que as nossas empresas e demais organizações continuam com tão baixas taxas de produtividade e bem-estar dos colaboradores? É porque na realidade, essa investigação não aborda os problemas específicos das organizações que existem no nosso país, porque as revistas internacionais que referi não querem saber disso. Então, estudar as formas eficazes de gerir e governar em países de matriz lusófona é de facto o objectivo central da ALGA. Mas há mais, não chega investigar, o fim último é contribuir para a produtividade, o bem-estar dos colaboradores e a sustentabilidade das empresas e demais instituições dos países de língua portuguesa. Essa ligação à prática é outro dos objectivos nucleares.
Qual a vossa expectativa em relação ao mercado?A nossa expectativa é boa porque a ALGA apenas acompanha as necessidades reais que já existem em outras esferas de cooperação económica, social e cultural entre os países da CPLP. Como todos sentimos, em particular nos últimos anos, as trocas económicas, científicas e culturais entre os países de língua portuguesa densificaram-se, pelo que a investigação científica tem também de acompanhar essa dinâmica para cumprir a sua função. Há hoje muitos investigadores de língua Portuguesa, como eu próprio, que tiveram de se adaptar à agenda de investigação internacional. E muito bem, temos obviamente de marcar presença aí. Mas falta um espaço onde possamos depois estudar as tais especificidades lusófonas e também debater e escrever em português. Há muitos colegas que sentem essa falta e, por isso, temos tido uma grande adesão aos eventos realizados até agora. E há também um número crescente de alunos de Mestrado e Doutoramento, e até de Pós-Doutoramento, que sentem também essa falta de eventos científicos que abordem as questões que lhes interessam em concreto. Por exemplo, o estudo das recompensas, do exercício da autoridade e liderança, etc., nas realidades dos países de língua portuguesa são diferentes dos outros. E há que estudar e divulgar essas diferenças. Não é que não exista já investigação sobre essa matéria, mas falta, de facto, um espaço Associativo científico que lhe dê mais ímpeto e dinamismo. Mas não se pense que se trata de uma acção paroquial, não há nada de paroquialismo aqui. Este movimento abre-se depois ao mundo. Só para dar um exemplo, estive este ano na China e em Macau, e o interesse dos Chineses pelos países de língua Portuguesa, incluindo os estilos de gestão e governação, são imensos. Mais uma vez se constata que a criação da ALGA acompanha as outras dinâmicas socioeconómicas e, como tal, só podemos estar optimistas face ao futuro.
Quem faz parte do projeto?Assinaram a “Carta de Maputo” investigadores de nacionalidade brasileira, moçambicana e portuguesa, mas agora que estamos a endereçar convites para a elaboração final dos corpos sociais fundadores, temos tido a preocupação de alargar os convites a investigadores de mais países e de muitas instituições de ensino. É um movimento colectivo. A prova disso é que desde o 1º Congresso tivemos participantes de vários países e instituições. Em Portugal, por exemplo, tivemos logo no primeiro evento participantes do ISEG, do ISCTE, da NOVA, da UTAD, entre muitos outros, o mesmo acontecendo com as universidades brasileiras. Eu poderia citar nomes como o do Professor Albino Lopes (ISCSP), que foi um dos mentores do projecto, ou a Professora Adelaide Baêta (Minas Gerais), a Professora Crisitina Limongi-França (Universidade de São Paulo), o Professor Carlos Sotomane (Politécnica de Moçambique), a Professora Eda Lucas (Universidade de Brasília), a Professora Maria Luísa (Universidade MacKenzie), ou o inspirador Anderson Sant’anna (Fundação D. Cabral). Mas o mais importante é que se trata de um movimento colectivo e não individual e onde o desafio se vai iniciar agora, pelo que todos serão chamados a dar um contributo.
Quais as metas a atingir em 2017?Embora esta rede informal já exista desde 2011, o ano de 2017 será o primeiro ano de funcionamento efetivo da ALGA como uma instituição com personalidade jurídica própria. Nesse sentido, as metas imediatas são as de colocar a Associação em pleno funcionamento, incluindo a captação e inscrição formal de associados, a dinamização de uma Revista Científica para publicações sobre as especificidades de gestão na esfera da lusofonia, e a realização do 4º Congresso Lusófono de Gestão, cujo local de realização será confirmado em breve, tudo apontando para que se realize novamente no Brasil. O grande desfia é criar um pólo de atractividade para os vários stakeholders, nomeadamente os investigadores e instituições universitárias e de investigação dos vários países, mas também profissionais da gestão, empresários e policy makers. A articulação com as organizações congéneres, nomeadamente a EURAM e a IAAM é também um trabalho já iniciado informalmente e que será desenvolvido em 2017. O mesmo se passa com a articulação com os profissionais, nomeadamente os de Recursos Humanos, que ocorrerá pela ligação à CRHLP. Queremos desenvolver uma Associação que seja de todos e para todos, independentemente do país lusófono que seja, ou até outro, ou da instituição a que os investigadores estão vinculados. O que é importante é que se faça o debate e a investigação sobre os problemas concretos de gestão com que os países da lusofonia se debatem, e criar uma agenda de investigação que proporcione ás nossas empresas e instituições ferramentas de actuação que lhes permitam incrementar a sua produtividade, o bem-estar dos seus membros, e a sustentabilidade da sociedade nestes países.
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